Chica Xavier


Olá, lindezas! Essa é minha terceira coluna aqui na Plataforma Dona De Si, e eu queria muito que ela tivesse outro pano de fundo que não fosse a vivência do luto. Mas nesse momento não tem outro sentimento que esteja mais latente em mim do que a saudade pela partida da minha avó materna, Chica Xavier.

Quem leu meu primeiro texto aqui já sabe um pouco sobre a importância dessa figura na minha vida. Vovó sempre foi meu principal cartão de visitas, e certamente continuará sendo. Em tudo o que faço tem um pouquinho dela, e eu faço questão de dar continuidade ao legado deixado por esta senhora.

No dia em que vovó partiu para o Orum (assim dizemos muites de nós, negres diaspóricos), dia 08/08/2020, eu pude entender a magnitude dela. Eu pude perceber com exatidão, o quanto é fundamental a nossa batalha por representatividade (e protagonismo) em todos os espaços da sociedade.

Na televisão, nos jornais impressos, nas redes sociais, em todo canto se via alguma homenagem a Chica Xavier, e na maioria delas encontrávamos os dizeres: UMA DAS MAIORES ATRIZES DESTE PAÍS.

Eu, particularmente, sempre tive vó Chica como minha maior referência não só de artista, mas também de ser humano. Como boa filha de Iansã, ela sempre foi uma grande guerreira. Funcionária

aposentada do Ministério da Educação, ela batalhou arduamente por uma educação básica de qualidade para os brasileiros. E justamente por levantar fortemente esta bandeira, foi uma das pioneiras na luta pela implementação da Lei 10.639/03 que obriga o ensino de história e cultura afro brasileiras nas escolas.

Eu sempre ouvi muita gente dizer que tinha uma mãe, vó ou tia parecida com Vó Chica. E quando eu era pequena, eu ficava até chateada com isso, porque queria minha avó só pra mim. Com o tempo fui entendendo que essa associação que as pessoas faziam estava diretamente relacionada a tal da representatividade. É que nós, comunidade preta, ansiamos por ver nossas caras na TV. E como vovó sempre fez papéis muito populares, automaticamente as pessoas se identificavam.

Em quase 64 anos de carreira (ela completaria dia 25/09/2020), Chica Xavier nunca viveu uma protagonista. Mas ela sempre trouxe tanta verdade, altivez e um olhar materno em seus personagens, que mesmo não estando a frente de nenhum elenco, sempre foi uma figura marcante em qualquer obra que participasse.

A batalha por papéis de destaque engendrada por Chica, Clementino Kelé, Léa Garcia, Ruth de Souza, Zezé Motta, Cléa Simões, Abdias do Nascimento, Jorge Coutinho, Milton Gonçalves e tantes outres artistas negres precisa da continuidade das novas gerações. Esses artistas foram (e são) pioneires e incansáveis, e por isso o mínimo que nós, artistas mais jovens, temos que fazer é segurar esse bastão e seguir no front, porque ainda há muito a ser feito.

A população negra é aproximadamente 56% da sociedade brasileira. Se somos maioria numérica, também precisamos ser maioria nos espaços de poder. E como diz minha avó Chica: “a gente tem que estar com a caneta na mão”. E eu acrescento: a caneta tem que ser para escrever as leis e também os roteiros.

Eu sigo aqui revendo quase que diariamente vídeos caseiros da minha avó e também registros de trabalhos artísticos. Isso me motiva como uma mulher da arte e também ajuda a amenizar a saudade. Eu não sei qual a fórmula certa para se viver o luto, mas tenho certeza absoluta, que como neta e herdeira de Chica Xavier no ofício e na fé, eu ainda preciso de um tempo para assimilar essa partida e para aprender a viver sem a presença física dela.

Meu coração, no entanto, está bastante tranquilo, porque aproveitei cada milésimo de segundo que tive ao lado da minha avó durante toda a minha vida. E como aprendi muito com ela a importância da família, do amor e da fé, estou colocando todos esses ensinamentos em prática para que os dias se tornem mais leves.

E o meu pedido a todes que me lêem aqui e que pode parecer um absoluto clichê, é: nunca percam nenhuma oportunidade de dizer “eu te amo”, “você é muito importante pra mim”, “que bom que tenho você na vida”, “a caminhada é mais leve porque você está por perto”, “sou grate pela sua existência”. Frases como essas salvam vidas, acalmam corações e distribuem afeto. E afeto e amor são também formas potentes de resistência. Sejamos resistência, assim como Chica Xavier foi. E pra você, minha avó, eu envio daqui “um abraço dado de bom coração, que é mesmo que uma benção, uma benção, uma benção!

Com afeto e axé, Luana Xavier.

Luana XavierAuthor posts

É atriz, apresentadora, roteirista e criadora de conteúdo. É uma das apresentadoras do programa Viagem a Qualquer Custo no GNT. Ela também é um sucesso no Instagram.

2 Comentários

  • Texto irretocável. Família maravilhosa. A gente se senti que faz parte desta família porque ela representa a maioria ds população brasileira. Obrigada, Luana.

  • Maravilhosa, eu sou uma das pessoas que comparo Chica a parente rs, minha Bisa ♡ . Adoro essa família Xavier . Kkkk por acaso também sou Xavier .kkk

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