Vamos falar do “Nós por Nós”?


O conceito “Nós por Nós” faz parte de muitos debates dentro do Movimento Negro. Já é nome de coletivo, de filme e intitula outras tantas ações do povo preto no Brasil.

O que quero evidenciar aqui é o meu entendimento sobre essa temática. Uma vez que esse debate passa bastante pela subjetividade.

Há aqueles que entendem que “Nós Por Nós” fala sobre um movimento separatista engendrado pelo povo preto e com o objetivo último de atacar deliberadamente a branquitude. Pensamento este, ao meu ver, bastante equivocado.

Há aqueles que acreditam que “Nós Por Nós” traz a ideia de que por termos a pele preta necessariamente pensamos da mesma forma, levantamos as mesmas bandeiras e compactuamos das mesmas “tretas”. Este é um outro pensamento que discordo sumariamente.

Acho bem importante ressaltar que embora a frase “Nós Por Nós” utilizada de forma abrangente seja algo um tanto quanto recente, na prática isso já é uma realidade desde que arrancaram nossos antepassados de África. Éramos de grupos distintos, não falávamos a mesma língua, mas ainda assim nos jogaram misturados nos mesmos porões de navios. A partir de então foi fundamental que a gente encontrasse uma forma de crescimento coletivo e de libertação ainda que tardia.

Por tudo isso, desde muito tempo, a gente tinha que contar era com a gente mesmo. E hoje essa história não é muito diferente.

Quando falamos sobre representatividade, sobre olhar a nossa volta e nos identificarmos ao vermos corpos pretos ocupando os mais diversos espaços, é notório que isso perpassa pelo sentimento de irmandade que o dito “Nós por nós” semeia. E a medida que esse sentimento nos toma de assalto, nossas possibilidades de crescimento pessoal, social e profissional se expandem.

A branquitude, em sua grande maioria, nos enxerga como mão de obra barata, não respeita nosso conhecimento ancestral, tenta de todas as formas nos dizimar, e mais que isso: nos enche de “munição” pra que a gente se digladie. Sabem aquela frase batida de “ver o circo pegando fogo”? É isso que a branquitude mais quer. Que o povo preto brigue entre si. E esse movimento nocivo a gente percebe muito nas redes sociais.

Vou enumerar algumas questões importantes pra essa reflexão:

– Não! Não somos todos iguais!

– A presença de melanina acentuada não nos torna parentes.

– Sim, existem muitos pontos que nos aproximam. Nosso histórico de dor e sofrimento é um exemplo disso.

– Nós não temos apenas história de pobreza pra contar.

– Não são as universidades que validam nosso conhecimento.

– Mas, sim, podemos e devemos ocupar as universidades também.

– Nem toda pessoa preta milita objetivamente pela negritude.

– Corpos pretos vivos já são um grande símbolo de militância e resistência.

– NÃO!!! Não temos obrigação de concordar com tudo o que outra pessoa preta fala.

E depois dessas rápidas reflexões quero pedir a você, que está lendo esse texto, que entenda de uma vez por todas que a comunidade preta no Brasil luta por espaços, luta por oportunidades, luta por sobrevivência e essa luta incessante é o que mais nos aproxima. Mas ainda que nos aproxime, não nos transforma em pessoas iguais. E o fato de nos enxergarmos coletivamente também não significa que nosso objetivo último é eliminar a branquitude. Mas uma coisa temos certeza: são os nossos iguais que nos fortalecem. E por isso bradamos que no fim das contas, nosso lema segue sendo “Nós por Nós”!

Com afeto e axé, Luana Xavier.

Luana XavierAuthor posts

É atriz, apresentadora, roteirista e criadora de conteúdo. É uma das apresentadoras do programa Viagem a Qualquer Custo no GNT. Ela também é um sucesso no Instagram.

1 Comentário

  • Se nós não formos por nós quem será? Juntas somos mais fortes. Belíssimo texto.

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